Para que possamos passar pela quarentena

Imagino que a maioria das pessoas, que está ficando em casa, tenta contornar esse aparente ócio utilizando-se de variadas formas para romper o tempo físico e até o tempo psicológico, esse talvez mais incontornável do que aquele.

Pessoalmente, até pela minha formação profissional, tenho grande apreço pela leitura, todo tipo, dos autores mais reconhecidos até os menos reconhecidos, dos jornais de âmbito nacional aos jornais e blogs locais, matéria contaminada nas redes sociais (necessário filtrar).

Penso que cada um vence o seu tempo físico-literário de modo muito particular: jogando cartas, dominó, caça-palavras, tricô, fazendo máscaras nas “empoeiradas” máquinas Sínger ou Vigorelli, vendo TV, ouvindo rádio, escrevendo poemas, brincando com as crianças (mantenha distância) ou até em “pouquíssimos casos” fofocando, vale tudo.

Nesse ensolarado domingo de Páscoa,12 de abril de 2020, em Jundiaí, São Paulo, lendo a Folha de São Paulo, no caderno B- págs. 16 e 17 (Ilustríssima) deparei-me com “As Filosofias da Pandemia”, onde foram reunidos vários dos mais importantes autores do mundo, dentre eles:

Giorgio Agamben- filósofo italiano, Jean-Luc Nancy-filósofo francês, Roberto Esposito-filósofo italiano, Alain Badiou-filósofo francês, Judith Butler-filósofa americana, Theodore Dalrymple- pseudônimo do psiquiatra e crítico cultural conservador britânico Anthony Daniels, FrankFuredi- sociólogo húngaro, HanByung–chul-filósofo sul-coreano, David Harvey – geógrafo marxista britânico, Bruno Latour-sociólogo francês, Paul B. Preciado – filósofotrans espanhol e SlavojZizek – filósofo esloveno, considerado o mais pop filósofo da atualidade e, para apenas estimular o debate, passo a transcrever alguns pontos  que julguei como temas importantes para um amplo debate, da maioria dos autores aqui citados.

Faço isso, temendo que a maioria da sofrida população brasileira não tenha conseguido acessar nesse e, talvez, em muitos domingos passados, um exemplar da Folha de São Paulo que, mesmo num país que tem profundo desprezo pela leitura, custa o equivalente a 4 litros de leite em qualquer supermercado. Setenta por cento da população optará pelos quatro litros de leite e, é triste, mas ela tem razão.

Passo a apresentar principais temas levantados pela maioria dos autores:

Frank Furedi afirma: “para a maior parte das narrativas sobre as pandemias, a esquerda defende que é a falta de investimento do estado no setor público; para a direita são os migrantes e estrangeirosos responsáveis pela situação. Ainda para ele quando, no passado distante, ocorria uma pandemia a responsabilidade recaia sobre Deus e forças sobrenaturais; após o Iluminismo passamos a culpar a natureza, hoje, culpamos os seres humanos e o estado”.

HanByung-chul diz: “Hoje soberania significa dispor de dados, e aí a China e os países asiáticos  saem na frente.  A  Europa acha que soberania  é igual liberdade, HanByung-chul entende que  esse conceito está ultrapassado”.

Para David Harvey“os impactos econômicos e demográficos do vírus dependem de fissuras e vulnerabilidades que já existiam no mundo econômico. Os trabalhadores na maior parte do mundo, segundo ele, foram ensinados  a se comportar como bons sujeitos  neoliberais, mas as únicas políticas que surtirão efeitos agora serão as socialistas”. O estado como o grande provedor, para ricos, pobres e miseráveis.

Bruno Latour propõe que “após a pandemia façamos um inventário das atividades que  não gostaríamos  que fossem retomadas  e daquelas  que, pelo contrário,  gostaríamos de ampliar”.

Para Alain Badiou“o que se observa é que a economia está sob  a égide do mercado global, enquanto os poderes  políticos  continuam  sendo  essencialmente nacionais”.

Judith Butlerpergunta : “Por que nós , como povo,  ainda nos opomos  à ideia de tratar todas as vidas como se tivessem o mesmo valor?”.

Theodore Dalrymple diz: “Com a falta de insumos, os governos acordaram para o perigo de deixar que a China seja a fábrica do mundo, confiando ao país diversas partes dacadeia produtiva”. Ele mesmo diz: “Tchau Europa, Olá China”, e comenta: “como os europeus, para se consolarem do fato de não terem respondido ao vírus com a mesma eficiênciade países asiáticos, se apegam à  ideia  de que são livres  e de que não vivem  sob regimes autoritários”.

Paul B. Preciado afirma: “Estamos em nossa época, passando de uma sociedade orgânica para uma digital, de uma economia industrial para uma imaterial. As pessoas não são mais reguladas pela passagem por instituições disciplinares, como escolas, fábricas, casa, mas por tecnologias biomoleculares, digitais e de transmissão de informação”. Ele continua: “O que está sendo testado em escala planetária por meio do gerenciamento do vírus é uma nova maneira de entender a soberania em um contexto em que a identidade sexual e racial está sendo desarticulada”.

Roberto Esposito diz: “Parece-me que, o que acontece hoje na Itália, com a caótica e um tanto grotesca sobreposição de prerrogativas estatais e regionais, tem mais o caráter de uma decomposição dos poderes públicos que o de uma contenção totalitária”.

Para SlavojZizek “o novo corona vírus sinaliza que uma mudança radical é necessária. A crise econômica que se espera como consequência da pandemia mostra a urgência de uma reorganização da economia global em que não se esteja à mercê  dos mecanismos do mercado”.

SlavojZizek prepara novo livro sobre a pandemia, que já está em pré-venda. Zizek fala de um socialismo de emergência, no qual trilhões serão gastos, violando as leis do mercado, mas que ainda  assim corre o risco deser um “Socialismo para os ricos”, ajudando apenas  a elite, como em 2008.

Desejamos que aqueles que se dispuserem a comentar ou elaborar teses sobre os temas acima, o fizessem de forma a mais apaixonada possível, do ponto de vista intelectual, que a discussão pairasse acima de ideologias, gênero, sexo, raça, cor, religião e, até de seu time do coração. Se assim não for, não terá valido a pena, o debate perderá qualidade, será um desserviço.

Pela atenção.

Agradeço.

Prof. Oswaldo José Fernandes

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